O Mato Grosso me surpreendeu e não é só pela quantidade de mulheres bonitas. Todos esses dias tenho me maravilhado com as belezas naturais, a quantidade de animais que tenho a sorte de ver e a simpatia desse povo que veio habitar o coração da América do Sul. Foi pedalando uma nega novinha, que fui me aproximando da Chapada dos Guimarães e descobrindo suas maravilhas, hora uma cachoeira com mais de 70 m de queda dágua, hora formações de arenito que lembram os mais variados objetos ou bichos. Pela rapidez com que visitei o Parque Nacional, fiquei com um gostinho de quero mais em minha boca. Voltei para Cuiabá para encarar mais um desafio, cruzar o Pantanal Norte pela rodovia Transpantaneira.
Foram necessários dois dias para vencer seus 140kms e cruzar 143 pontes. Nesses dois dias, pude ver jacarés, bandos de capivaras, muitos tuiuiús, gaviões, pássaros e uma cobra de mais de dois metros que descansava tranqüilamente no leito da estrada. Não foi dessa vez que vi uma onça, mas não perdi as esperanças. Em Porto Jofre, fiquei sabendo que um barco para Corumbá só passaria, talvez, em oito dias o que me fez alterar os planos, voltando para Cuiabá e pedalando em direção a Campo Grande, com previsão de alcançá-la em sete dias. Logo nesse primeiro dia, fui apreciando o Monte Santo Antônio que poderia ser chamado Monte Fuji, se estivesse coberto de neve. No final do dia tive que subir uma serra com mais de 10 km e como não há acostamento, foram momentos muito, muito perigosos. Depois de tanto tempo, pude descansar quase uma semana em Bonito. Fiquei na casa do Daniel De Granville e da Tietta Pivatto, que conheci em 1999, quando eles realizaram junto com o Guto Bertagnolli, uma viagem de bicicleta pelo Nordeste, conhecida (e muito!) como Pantanal Vai a Praia. Estava precisando, pois este trecho desde Cuiabá foi bem difícil, a começar pela tensão de viajar uma semana pela BR-163, estrada sem acostamento e que concentra boa parte do tráfego entre o Mato Grosso e o sudeste, pelo menos até Rondonópolis.
É claro que essa semana não foi feita apenas de sustos e muito pedal, pois cruzei uma região bastante preservada, com cachoeiras cinematográficas e uma coisa impressionante, nascentes de água quente. Todos os poços artesianos furados a nordeste do Pantanal, encontram água com temperatura próxima dos 40ºC. Depois de tantos dias vendo a morte de perto, não via a hora de voltar para as estradas de terra e me enfiar novamente no Pantanal, que consegui após Rio Verde, já no Mato Grosso do Sul. Foram 370 km até Bonito, que fiz em 4 dias e pude conhecer mais um pouco deste ecossistema, perfeito para se percorrer de bicicleta. Em Bonito, eu só não descansei mais, porque conseguiram para mim varias cortesias e eu pude conhecer muitas das atrações que tornam esta cidade tão especial. A Gruta do Lago Azul, a Gruta de São Miguel, as Corredeiras do Rio Formoso, o Aquário Natural e o Rio da Prata. Ainda tive minha primeira experiência com rapel, descendo uma cachoeira com mais de 50 metros de altura. É alucinante! Também dei uma palestra aberta ao público no Taboa Bar e uma entrevista ao vivo na rádio local. Já estava achando que precisava voltar a pedalar para descansar um pouco. Depois de tanto tempo me correspondendo por e-mail, conheci pessoalmente a Eliana do Clube de Cicloturismo, que está desenvolvendo um trabalho bem legal, divulgando o cicloturismo no Brasil. Bonito foi demais e vou guardar para sempre as lembranças de um lugar realmente especial. Parece que a recíproca também é verdadeira, pois após a palestra, ganhei várias roupas, uma máquina fotográfica Canon sub-aquática e filmes!