Ecossistemas Brasileiros: Belém(PA) - Santarém(PA) - Cuiabá(MT)

Depois de muito refletir, resolvi alterar o plano de viagem de Santarém para Cuiabá. Chegar a Santarém foi uma dificuldade. Depois de 3 dias batalhando em varias empresas de navegação, encontrei a que faz as linhas para Santarém , Porto Trombetas e Manaus. Se eu quisesse ir para Manaus, só haveria transporte dali a alguns dias eu só chegaria lá no dia em seis dias de viagem, para então batalhar outra carona para Porto Velho, com duração prevista de mais 7 dias. A viagem pelo rio Amazonas é deslumbrante, mas é necessária muita paciência para ficar mais 10 dias em cima de uma balsa, sem ter o que fazer a não ser ler revistas velhas. Um agravante nada desprezível, é que quanto mais a oeste maior a chance de se contrair malária.

 

Tive a oportunidade de conversar com vários caminhoneiros, experientes nas estradas da região e eles foram unânimes em me recomendar que eu seguisse para Cuiabá de Santarém, pois apesar de que rodarei mais de 300km além do que eu rodaria por Porto Velho e que a estrada é praticamente toda de terra, aqui é muito mais seguro pelo menor tráfego e também, muito mais selvagem. Assim, não deixaria de passar por nenhum dos ecossistemas brasileiros e conseguiria chegar em Cuiabá antes que começasse a estação das chuvas, prevista para o fim do mês. Em Santarém fui muito bem recebido e consegui o apoio para revisão da Nêga, além de passar a noite numa academia de ginástica, com direito a fazer uma aula de alongamento especial para ciclista, preparada para a equipe que representa a cidade nos campeonatos da região. Agora era hora de retomar a viagem, estava ansioso por voltar a pedalar, depois de tanto tempo parado. Foram mais de dez dias num rally alucinante, rasgando este Brasil de alto a baixo, na BR-163 a Cuiabá/Santarém. Tive um pneu rasgado, a corrente quebrada, passei bravamente por atoleiros e pontes improvisadas descendo num ritmo de mais de 60km por dia.

A estrada é bastante difícil, com muitas subidas e descidas e o piso muito irregular com valas e pedras soltas o que me fez ter uma queda e ralar a lateral da coxa. A paisagem infelizmente, não é bonita, pois o ambiente é bastante degradado pelas queimadas para a implantação de pastos e extração de madeira de lei. Mas havia muitos igarapés, com a água fresquinha onde tomava muitos banhos e , freqüentemente, matva minha sede (não sem antes tratar a água) Não tive dificuldades em me alimentar bem, com muitas frutas que encontrava nos diversos sítios, além do que, encontrava guarida em restaurantes de beira de estrada a cada 30 km mais ou menos.

As pessoas são muito boas, trabalhadoras e estão adorando meu projeto, me incentivando bastante. Dar a volta no Brasil de bicicleta antes que um gringo o faça, como diziam.

Certa noite, resolvi encarar a onça e dormir no meio do mato. A única coisa que encarei foram as formigas que comeram minha barraca. Depois de 16 dias e 1100, km , sem nenhum dia de descanso, venci mais uma etapa, cheguei a Guarantã do Norte MT. A partir daqui as estradas são asfaltadas e as distâncias entre as cidades bem menores. Cheguei muito bem, sem nenhum problema de saúde, apenas observei os 15 dias necessários para que uma eventual malária se manifestasse. A nega mais uma vez se superou, não apresentando nenhum problema sério e permitindo que eu cruzasse esse deserto em tempo recorde. O tempo passou a ajudar bastante, chovia muito pouco e o céu mantinha-se praticamente o tempo todo nublado, me protegendo do sol forte. Realmente, olhando para trás percebo que esse trecho foi mais tranqüilo do que esperava e do que estava psicologicamente preparado. Fiquei em Guarantã do Norte mais um dia, lavando minhas roupas e os alforjes, que já haviam mudado de cor devido a tanta poeira. O projeto Ecossistemas do Brasil, continuou pelo extenso cerrado do planalto central. Continuei pedalando pela BR 163, só que em trechos asfaltados, planos e com toda infra-estrutura.

Apesar de não ter acostamento, o piso era bom e o pouco movimento, feito quase que exclusivamente por carreteiros que adoravam minhas aventuras, me garantiam segurança. O Mato-grossense, a rigor, não existe, pois a população é formada por imigrantes dos estados sulistas. Como o imigrante é uma pessoa corajosa e aventureira, isso me garantiu uma excelente receptividade por todos. Chegando a Sinop fiquei por dois dias , pois consegui o apoio do amigo do viajante para uma revisão completa na Nega e também a melhor exposição na mídia até agora. Gravei uma matéria para a seção local do MT TV e fui convidado para participar ao vivo, na redação. Foi um sucesso e ainda apareci em cadeia para todo estado, no jornal noturno. O sucesso não foi a toa pois me preparei bem para entrevista e caprichei no visual, sacrificando a barba que estava cultivando desde Belém (era para espantar as onças). Ao partir, fiquei em dúvida se seguia pelo movimentado asfalto da região metropolitana de Cuiabá ou se me enfiava de cabeça no Mato Grosso, pedalando pelas estradas de terra freqüentada apenas pelos caminhões boiadeiros.

Decidi não encarar cruzar pelo coração do Mato Grosso, pois não tive nenhuma indicação positiva desse roteiro e fui pela BR 163 mesmo, até próximo da capital, onde peguei um asfalto secundário, para fugir do pesado tráfego de caretas, que estavam deixando minha viagem muito perigosa. Inacreditável o calor que faz em Cuiabá. De Todos os Lugares por onde passei, do litoral do nordeste à Região Amazônica, aqui é a região mais quente e abafada, pois não venta. E isso ainda com o céu encoberto, pois estava começando a época das chuvas. Aliás era preciso correr para cruzar o pantanal e não ser pego no meio, por semanas de aguaceiro. Adorei o planalto central e o cerrado, vendo muitos bichos e aves multicoloridas, ao longe cadeias de montanhas que formam as várias chapadas. A imprensa, principalmente a TV, continuava adorando minha trip, dei muitas entrevistas e apareci bastante nos jornais regionais e de esportes. A Nega, como não poderia deixar de ser, estava bastante judiada, mas realizei a melhor manutenção da viagem até aqui, substituindo muitas peças, o que a deixou nova de novo. Quanto a mim, continuava me sentindo cada vez melhor, pois nunca ficava doente e isso tomando água de igarapé e comendo tudo o que me aparecesse pela frente. Se fui picado por algum mosquito com malária, meu corpo pensou que era alimento e mandou para as pernas, para queimar junto com todas as mangas que comia diariamente.


Ecossistemas Brasileiros: Prado(BA) - Salvador(BA)
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