"A vida virou um risco" - Uma viagem pelos confins da América Latina

QUANDO, COMO E POR QUÊ?

Meu nome é Luis Antônio, sou desenhista industrial natural de São Paulo/SP e aos 23 anos - mais exatamente em janeiro de 2016 - decidi amarrar meus pertences em uma bicicleta e pedalar a América Latina em busca de conhecimento e qualidade de vida.

Após ser demitido de meu último emprego e notar um mercado de trabalho fraco, decidi fazer algo totalmente novo para mim: sair do conforto do lar, aprender um novo idioma e conhecer o mundo em uma velocidade humana.

Escolhi a bicicleta por ser um meio de transporte muito eficiente e de pouca manutenção. É uma forma muito confortável, saudável e independente de viajar, pois o ciclista pode parar ou seguir conforme seu gosto, sem depender de nada além do esforço físico. Algo que me fascina também é a simplicidade. Por ser um meio de transporte muito econômico, praticamente todas as pessoas tem bicicleta, e assim ninguém se acanha em abordar um "ciclista forasteiro", de perguntar-lhe algo ou até mesmo oferecer uma amizade.

 

CAMINHOS ALTERNATIVOS

(legenda: traçado vermelho - rota em bicicleta, traçado amarelo - trajeto em ônibus)

Saí da porta de casa pedalando e logo nas primeiras semanas de viagem, notei que tomar caminhos alternativos - fora das estradas principais - era muito melhor. Estar em rotas menos movimentadas, menos turísticas é mais seguro e permite uma absorção cultural mais genuína. Aprender sobre a economia local, os sotaques e costumes culinários é o que realmente me interessa.

Desde o início eu venho alimentando um blog com minhas experiências de viagem. Além disso, também tenho uma série de postais, - fotografo e imprimo fotos de diferentes ecossistemas - que vendo pelo caminho de forma a angariar recursos para poder viajar.

Conforme desenvolvo este trabalho - até agora são mais de 15 relatos e 100 fotos, pode-se conhecer em www.umrisco.wordpress.com - percebo que a melhor forma de estar em contato com as realidades socioeconômicas e conhecer paisagens de distinta beleza é pedalar por diferentes ecossistemas do continente. Como, por exemplo, na Bolívia, no segundo semestre de 2016 eu estava pedalando há mais de 1 mês por zonas desérticas, de grande altitude e muito frio. Minha meta era chegar ao Peru e eu sabia que de Cochabamba me faltavam muitas montanhas para chegar ao Titicaca. Dessa forma comecei a estudar alternativas e cheguei a conclusão que se eu fizesse uma investida ao leste, poderia ir até o centro-oeste do Brasil e de lá pedalar ao norte até o Peru. Esse caminho foi muitíssimo mais longo, porém eu pude conhecer o clima de charco, pantanal, cerrado e amazônico, além de ver com os próprios olhos a realidade dos latifúndios e o desmatamento intensivo das matas brasileiras em função da expansão agropecuária.

 

AS PESSOAS DO CAMINHO

A melhor forma de conhecer a realidade de uma região é estar em contato com as pessoas. Dessa forma eu evito ao máximo pagar por alojamento - o último hotel que paguei foi em maio de 2017, na cidade de Cusco, Peru -, pois, além da grande economia que me permite viajar por mais tempo, buscar hospedagem solidária obriga o contato com os locais, e a entender a dinâmica social e cultural de cada zona.

São muitas as formas de conseguir apoio para descansar, e todas envolvem entrar na cultura socioeconômica de uma pessoa ou instituição. As plataformas Couchsurfing e Warmshowers são muito legais e permitem planejar o descanso em certas regiões estratégicas - por exemplo, em cidades grandes, quando se necessita receber encomendas, preparar-se para voos -, além do que nessas plataformas é muito comum conhecer pessoas parecidas a mim, e dessa forma intercambiar informações valiosas sobre rotas e pontos de interesse. Nas cidades grandes e médias de muitos países há os Bombeiros Voluntários, que sempre me ajudaram para descansar com segurança de 1 a 3 dias, além de ter wi-fi, cozinha e algumas vezes até cama. Em meu caderno de viagem eu peço um carimbo e uma recomendação de cada corporação que passo, isso me ajuda a conseguir apoio na próxima cidade, além de ser uma linda recordação. No campo e nos povoados pequenos é comum ir de porta em porta a pedir um espaço para acampar, muitas vezes as pessoas me convidam para dentro de suas casas e posso conhecer uma realidade totalmente nova.

Ao longo de mais de dois anos de viagem conheci os mais diversos estilos de vida e fiz grandes amizades. Em estadias mais longas, é muito comum trocar um pequeno serviço - de 2 a 4 horas ao dia - pela acomodação e comida, de forma a agradecer os anfitriões e incluir-se na rotina do lugar. Em algumas ocasiões inclusive recebi dinheiro por trabalhos na área do design gráfico e fotografia. Esse intercâmbio é muito frutífero e posso dizer que é minha grande motivação para seguir viajando e desbravando terras.

 

A VERDADEIRA AMÉRICA

Nesses quase 800 dias de viagem eu pude aprender muito sobre nossa América. Conheci os rastros de civilizações que há mais de 10 mil anos habitam os Andes, realizando grandes construções e desenvolvendo tecnologias para melhorar a eficiência da agricultura. Aprendi que nosso continente é o mais diverso em ecossistemas, e por isso é riquíssimo em recursos naturais, tendo as maiores reservas mundiais de cobre, lítio, bauxita e muitos minérios tão importantes para o mundo moderno, além de petróleo, água doce e gás natural. Nossas terras são muito férteis e tudo que se planta, se colhe em abundância.

Me impressionou muito nunca ter ouvido falar dessa América tão rica na escola. Nunca tive contato com a língua castelhana, e tampouco com autores, escritores e artistas latinos. Acho que essa foi e está sendo uma das grandes motivações para desbravar este continente tão imenso em belezas e mistérios.

Através do meu blog e das páginas do FacebookInstagram eu quero repassar este conhecimento que estou absorvendo para todas as pessoas interessadas em nosso continente. Por isso escrevo em português e espanhol, e tento ilustrar em texto e fotos a realidade dos povos latino-americanos. Penso que se todos nós tomarmos conhecimento de nossas capacidades, poderemos entender melhor o que nos limita de ser o continente com a melhor qualidade de vida de todo o planeta.

No blog www.umrisco.wordpress.com pode-se ler com detalhe as experiências dessa cicloexpedição. Acompanhe a página Facebook e o Instagram para saber das novidades semanalmente.


Luís Antonio Botelho da Cunha, 25 anos, formado em Design, desenhista industrial e que atualmente trabalha como freelancer na área de ilustração e de design gráfico. Em 2016 partiu de São Paulo para uma maravilhosa experiência de viajar pela América Latina com alguns pertences amarrados em sua bicicleta. Desde então tem colecionado novos aprendizados e percepções a respeito da vida.