Rio Reno: Pedalando entre Castelos e Vinhedos

Pedalando e curtindo a viagem, fazendo algumas paradas para comer cerejas direto do pé. Tudo bem que as cerejas eram bem azedas, mas a viagem e o visual para o rio Reno compensavam o sabor das frutinhas vermelhas.

 a colheita de cerejas

Escolhemos (minha ex-namorada e eu) este roteiro por ser mais plano, por ter inúmeros castelos e pequenas vilas espalhados pelo rio Reno, que também é conhecido pelos vinhedos. Por estes atrativos este roteiro é bastante freqüentado por cicloturistas alemães e europeus em geral.

Os preparativos
Existe na Alemanha um clube da bicicleta chamado ADFC (Allgemeiner Deutscher Fahrrad-Club) que, entre vários produtos ligados ao cicloturismo, vendem mapas e guias sobre diversas regiões da Alemanha e da Europa, ricos em informações e muito bem detalhados.

rolo de feno típico na região

A loja é um paraíso para cicloturistas e nela encontramos um guia bem detalhado do rio Reno entre as cidades de Mainz na Alemanha e Roterdã na Holanda. O guia, que pode ser fixado facilmente em uma bolsa de guidão, possui dicas de hospedagem, alimentação, pontos turísticos e mapas bastante detalhados em escala 1:75.000. Não há como se perder!

Optamos por usar nossas carteirinhas de albergue e fizemos nossas reservas, via internet, com pelo menos dois meses de antecedência, pois a região é bastante visitada principalmente nas estações da primavera e verão.

primeiro pernoite em St.Goar

São várias opções de albergues pelo trajeto, por exemplo, é possível se hospedar em um albergue que fica em um castelo numa pequena cidade chamada Bacharach, mas infelizmente não conseguimos mais vagas. O legal dos albergues por aqui é que você pode ficar em quarto com diversas pessoas ou pedir um quarto para casal, pagando um pouco mais. Lembrando que é possível incluir café da manhã, almoço e/ou jantar na diária.

Também é perfeitamente possível acampar. Existem diversos campings espalhados pelo rio Reno, sendo essa a opção mais barata de pernoite. O transporte mais barato na Europa é o ônibus, mas o que vale a pena pelo custo e curto tempo para deslocamento é o avião.

encontro de cicloturistas

Partimos de Berlim com destino a Frankfurt, sem nenhum problema com a bagagem incluindo as bicicletas, mas informamos antes as dimensões e pesos dos mesmos, a pedido da companhia aérea.

Do gigantesco aeroporto de Frankfurt pegamos um trem direto até a cidade vizinha de Mainz, que fica no encontro dos rios Meno e o Reno. Chegamos a noite no albergue de Mainz e sem perder tempo montamos as bicicletas para o início de nossa pedalada no dia seguinte com destino a Düsseldorf em uma semana.

A viagem
o rio Reno e os vinhedos à esquerda

Após algumas voltas para conhecer a cidade de Mainz, encontramos facilmente o trajeto que escolhemos pedalar, à margem esquerda do rio Reno. Lembrando que todo o trajeto do rio Reno é feito por ciclovias.

O primeiro dia pedalado foi de Mainz com destino ao albergue na pequena cidade de St. Goar. Foram aproximadamente 65 quilômetros.

Nesse primeiro dia muitas cerejeiras, os primeiros castelos avistados e destaque a torre Mäuseturm construída em uma ilha no meio do Reno, próximo a cidade de Bingen que também é ótima parada para descanso e visitas, por exemplo, a ponte de pedra mais antiga da Alemanha, a Drususbrücke, erguida na Idade Média.

Para nós o destaque negativo do dia foi a não visita a um mosteiro chamado Eberbach que fica a direita do rio a quatro quilômetros da margem, no meio da floresta. Neste lindo mosteiro erguido em 1116 já viveram 300 monges e também foi usado para filmagens do filme “O nome da Rosa”.

em Koblenz o encontro com o rio Mosel

Depois da cidade de Bingen passamos pela pequena Bacharach, considerada por nós umas das cidades mais bonitas do trajeto. Ela é cercada por um muro, como toda cidade da Idade Média e tem em cima de um morro o castelo de Stahlleck onde fica também instalado um dos inúmeros albergues encontrados pelo caminho. Infelizmente não conseguimos reservas para um dos mais procurados albergues alemães.

Antes da chegada a St. Goar, passamos pela famosa Loreley, um rochedo de 193 metros em uma das curvas do rio. A lenda fala de uma linda mulher, uma espécie de sereia, que neste ponto do rio cantava aos navios que desatentos afundavam de encontro aos rochedos.

St. Goar é uma pequena cidade produtora de vinho e dela partimos para a segunda etapa com aproximadamente 115 quilômetros até a pernoite no albergue de Bad Neuenahr-Ahrweiler.

pequenas vilas espalhadas pelo caminho

Nem começou a pedalada, após 15 quilômetros, paramos na cidade de Boppard para subir de teleférico e ter uma vista fascinante do Rio Reno e redondezas. O rio Reno segue em uma espécie de vale, entre as cidades de Mainz e Colônia. Valeu a pena a subida!

Fez muito calor todos os dias e aproveitamos para em alguns trechos nos refrescar e nadar nas águas do rio Reno. O rio Reno tem uma extensão de 1320 quilômetros e 833 deles são navegáveis. Atravessa a Suíça, Liechtenstein, Áustria, Franca, Alemanha e Holanda. Sua nascente na Suíça fica nos Alpes a 2344 metros e desemboca no Mar do Norte na cidade de Hoek na Holanda.

É bastante utilizado por grandes barcas de carga e navios de turismo que chegam a navegar até o porto de Roterdã na Holanda. Existem, além das pontes, diversos pontos no rio onde balsas fazem a travessia de automóveis, turistas e moradores da região.

campos de trigo

Seguimos caminho passando por mais castelos construídos nas montanhas ao redor do Reno até chegarmos na cidade “grande” de Koblenz, grande comparada a todas as outras que já passamos. Em Koblenz outro rio, o Mosel, se encontra com rio Reno em um lugar chamado “Deutsches Eck” onde também se encontra um monumento em homenagem a reunificação alemã.

parada para o almoço

Ouvimos dizer que pedalar às margens do rio Mosel é muito bonito também, cheio de vinhedos, e claro, muitos castelos. Chegamos em Bad Neuenahr-Ahrweiler ao anoitecer com a maior distância percorrida durante a viagem. Bom jantar e descanso merecido aos ciclistas. A cidade se localiza a uns 20 quilômetros longe do rio Reno.

 

No dia seguinte, antes de chegarmos na antiga capital alemã, passamos por Remagen onde visitamos uma linda igreja chamada Apollinariskirche. Parada também para almoço. Beber aquela cervejinha e um pão com uma das lingüiças típicas alemãs, o Brattwurst.

Entre as cidades de Boppard e Remagen passamos por muitos vinhedos, comprando três garrafas para a nossa adega nos alforjes da bicicleta.

vista para a cidade de Colônia

Conhecemos então Bonn, a antiga e provisória capital alemã entre 1949 e 1990. Imaginávamos uma cidade grande, uma das maiores no trajeto e para nossa surpresa a cidade é bem pequena com ares de cidade tranqüila do interior, mas cheia de turistas.

Em Colônia terminamos outra etapa de aproximadamente setenta quilômetros. A cidade é grande, cheia de turistas e muitos brasileiros. As estatísticas dizem que é nessa cidade alemã que vivem a maioria dos brasileiros.

Destaque na cidade para a catedral “Kölner Dom” que deve ser visita obrigatória com direito a subir em uma de suas torres e ter vistas para a cidade e para o rio Reno. O que impressiona na catedral são os detalhes dos vitrais e entalhes em suas colunas, tetos, e portas. Tudo tem um significado. Impressionante!

os muros de Zons

De Colônia seguimos pedalando em direção a Düsseldorf. O rio Reno percorre uma região bem plana, não existem mais os morros e por conseqüência o número de castelos avistados caem.

Neste trajeto destacamos a pequena vila de Zons que só recebeu uma pequena menção em nosso guia, mas é imperdível. É segunda ou a primeira cidade mais bonita da viagem? Bacharach ou Zons, não sei, que dúvida!

chegada na linda Zons

Zons ainda está na margem esquerda do rio, antes da travessia para continuar a viagem até Düsseldorf. É uma pequena vila erguida na Idade Média, entre 1373 e 1400, cercada por um muro. Existe também um antigo moinho de vento. O que nos impressionou foi o ambiente tranqüilo e o estado de conservação de tudo.

Chegamos em Düsseldorf depois de termos atravessado o rio Reno de balsa na altura de Zons. Percorremos todo o perímetro urbano da cidade, que também fica as margens do rio, e chegamos ao destino final em um bairro afastado da cidade, na casa de amigos brasileiros. A pedalada pelo Rio Reno No total, a pedalada, incluindo o trajeto e todos os outros passeios pelos arredores, somou aproximadamente 350 quilômetros. Todo o trajeto é bem sinalizado por ciclovias e teríamos conseguido realizá-lo sem o guia.

O trecho mais bonito do rio Reno na nossa opinião foi entre Mainz e Koblenz. Mais montanhas ao redor do rio, castelos e vinhedos incrustados em suas costas e pequenas cidades a serem visitadas.

chegada em Düsseldorf

O que nos impressionou em todo o trajeto foi o número de cicloturistas que encontramos pelo caminho e a infra-estrutura que existe para receber os turistas sobre duas rodas. A maioria dos cicloturistas tinham idades entre 40 e 70 anos e a conclusão negativa foi perceber que poucos “jovens” estão pedalando e viajando por aí. Caramba, tem forma de viagem mais barata do que de bicicleta? Dicas e Informações úteis:

  • Clube de bicicleta alemao : ADFC (Allgemeiner Deutscher Fahrrad-Club) www.adfc.de

  • Guia do rio Reno de Mainz a Roterdã (em língua alemã) – Rhein-Radweg Teil 3: Von Mainz nach Rotterdam. Site da editora: www.esterbauer.com

  • arteira de albergue pela “Youth Hostelling International” - www.alberguesp.com.br

  • Albergues na Alemanha (Rio Reno) - www.djh.de Companhia aérea alemã DBA com vôos internos e pela Europa - www.flydba.com


Fábio Zander - cicloturista/palestrante, possui dupla-cidadania, brasileira e alemã, realizou diversas expedições extremas na América do Sul como Desafio dos Andes, Pedalada del Fuego e Ciclotrópico Capricórnio. www.zander.com.br

 

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