Da Liberdade ao Cristo: dos Estados Unidos ao Brasil num barco a pedal-Projeto

O PROJETO

Zé do Pedal, um dos cicloturistas mais experientes do Brasil, está saindo para uma aventura incrível: pedalar num barco movido a pedal de Nova York ao Rio de Janeiro. Serão 23.000km pedalando pelas águas do Oceano Atlântico. A viagem terá uma duração aproximada de dois anos. Fazer uma viagem desta natureza pode parecer uma tarefa impossível. Mas não para este mineiro natural de Viçosa, que já percorreu o mundo todo de bicicleta. O objetivo do cicloturista é divulgar a importância da preservação das águas no mundo.

O barco da empresa americana Prophish (www.prophish.com) possui dois flutuadores que são feitos de fibra de vidro e o seu interior traz uma armação de alumínio naval, recheado de esponja de poliuretana, mede 4.50mde comprimento por 2.10m de largura com um peso total de 70kg que suporta 286kg de carga. A velocidade de cruzeiro do barco, é 10km/h, permitindo um deslocamento limpo e não poluente para que possa ser usado de forma ecologicamente correta. O barco também tem um teto de lona, para proteger ao ciclista das intempéries. Zé do Pedal pretende pedalar cerca de 50km por dia. Durante a noite, o ciclista dormirá em barraca de camping armada nas praias.

A saída será sobre o Rio Hudson aos pés da Estátua da Liberdade em Nova York, até o oceano atlântico. Posteriormente, Zé do Pedal seguirá pela costa leste até a Florida, contorna os estreitos, pega o golfo do México, passa pela Península de Yucatán, os países da América Central até o Golfo de Uraba na Colômbia. Posteriormente, o atleta e ambientalista entra a Venezuela, cruza para as ilhas de Trinidad y Tobago e volta para a Venezuela. A partir dali, ele estará percorrendo o trecho, em sua opinião, mais emocionante da viagem: “até Belém do Para, no Brasil, serão quase 3.000km de selva e mar… meu único contacto, será com os pescadores e com os indígenas que habitam naquelas paragens… gente simples, com muitas história para compartir… histórias de vida, que transformam vidas”. Conclui Zé do Pedal. As aventuras de José Geraldo começaram em novembro de 1981, quando ele resolveu assistir aos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo que ocorria na Espanha. Na viagem, ele percorreu 22 países durante 6 meses e meio. Ao todo, foram 27.200 km. Depois disso, Zé do Pedal não parou mais. Percorreu 117 mil km durante quase 4 anos para dar a volta ao mundo em bicicleta, passando por 54 países. Em um velocípede de criança, viajou através do Japão entre 1985 e 1986.

Em 1987, foi do Chuí, extremo sul do Brasil, até Brasília, também de velocípede. Em 1983, durante a volta ao mundo, Zé do Pedal venceu na categoria “Estrangeiros” a maratona comemorativa do 447º aniversario da cidade de Lima, Peru, e em 1992, foi vice-campeão do Campeonato Nacional de Motociclismo do Equador, na modalidade Velocidade “categoria125cc”. Em 2002, realizou toda a travessia do Rio São Francisco num pedalinho. É a preocupação com o meio ambiente que impulsiona Zé do Pedal neste novo projeto. No dia 22 de março, Dia Internacional das Águas, ele partirá da Estatua da Liberdade, em Nova York, Estados Unidos, em direção à Marina da Glória, aos pés do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, Brasil.

Seu principal objetivo nesta viagem é conscientizar as pessoas sobre a urgente necessidade de manter limpos os rios, lagos e oceanos do planeta. O ciclista quer sensibilizar as organizações sociais, governamentais ou não, a se unirem para trabalhar em prol da melhoria da qualidade das águas. “Caso continuemos a poluir e não cuidar das nossas águas, o futuro da vida no planeta estará ameaçado. Deve ser prioridade de todo cidadão fazer a sua parte”, alerta Zé do Pedal. Para isso, ele pretende contribuir realizando palestras nas cidades por que for passando, abordando os problemas da água no planeta e divulgando dados coletados durante o percurso, como quantidade de lixo encontrada, poluição, etc. Como em outras viagens, outro recurso importante será o uso de fotografias que conseguem revelar com sensibilidade toda a beleza dos locais por onde ele passa. A previsão é que na durante a viagem ele faça 30.000 fotografias, além de gravar 800 horas de vídeo, que serão usados para a realização de um documentário, e estará escrevendo o livro: Na Curva do Vento, onde ele contará toda história de sua viagem.

Estados Unidos -  outubro de 2004 -  Interrupção no Cronograma

Depois de enfrentar 4 furacões (Alex, Charley, Francis e Jeane) e com a aproximação de um novo inverno no Hemisfério Norte, Zé do Pedal decidiu excluir os seguintes estados Americanos de seu roteiro inicial Alabama, Mississipi, Louisiana (todos estes estados no Golfo do México. De acordo com o ciclista, que já pedalou mais de 2800km em seu barco a pedal, denominado LIBERDADE desde que saiu de Nova York dia 22 de março ultimo, "foi muito difícil tomar esta decisão, porém, devido a esta temporada de furacão estar sendo a pior dos últimos 20 anos e esta parte da viagem que inclui os estados da parte sul dos Estados Unidos e uma área muito desprotegida e em certos lugares, eu teria que passar até uma semana para chegar a um lugar seguro, me transformando em um alvo fácil no caso de um novo furacão".

"Outro problema que pesou na minha decisão de abortar esta parte da viagem, foi a aproximação de um novo inverno aqui nos Estados Unidos". Relatou o ciclista informando ainda que devido aos 3 furacões, ele percorreu menos de 300km em 40 dias. "em cada furacão eu tinha que parar, tentar encontrar um lugar para deixar o barco (o que não era fácil, pois nenhuma marina queria ter a responsabilidade sobre o mesmo) e depois conseguir refugio em um lugar seguro para mim". Zé do Pedal interrompeu a viagem depois de haver cruzado o Lago Okachobee, na Flórida Central, perto do Golfo do México, na cidade de Clewiston, e devera recomeçar na cidade de Browsville, no Texas.

 

México -  janeiro de 2005 - Problemas de Fronteira

Depois de passar mais de duas semanas tentando convencer as autoridades migratórias do México a prorrogar o prazo para permanecer no país de 30 dias para 6 meses, o ciclista, ambientalista e fotografo brasileiro Zé do Pedal, finalmente conseguiu a extensão de sua estadia no México e está pronto para continuar seu recorrido pelos aproximadamente 3.000km da costa mexicana. De acordo com o ciclista foi muito importante o apoio da imprensa e dos membros dos Lions Clubes. “Recebi muito apoio de vários companheiros do Leonismo internacional, que estavam preocupados pela minha situação. Até de Porto Rico recebi ligações, fora as do Brasil”. “Também recebi o apoio do Grupo Beta Matamoros, uma organização governamental mexicana que apóia ao Migrante”. Declarou Zé do Pedal, informando ainda que graças a todo este apoio, poderá continuar sua viagem. Zé do Pedal lamentou o pouco caso que a Embaixada brasileira teve com o seu problema: "no dia 28 de dezembro enviei um e-mail a Embaixada do México em Brasília e outro a nossa embaixada (com copia do enviado a Brasília) informando sobre meu problema. Na manha seguinte, um representante da Embaixada mexicana me ligou, lamentando (e pedindo desculpas sobre) o ocorrido e me dando algumas idéias de como meu problema poderia ser resolvido (foi deles a idéia de contatar o Grupo Beta)".

Da Embaixada brasileira, recebi apenas um e-mail no dia seis dias depois me informando uma página na internet e um telefone da migração mexicana em Matamoros (MEU PROBLEMA ERA COM A MIGRAÇÃO). O e-mail nem sequer tinha uma assinatura, apenas um “cordialmente Serviço Consular”. Não que eu ache que a Embaixada de MEU país tenha que resolver MEUS problemas. Porém, acho que quando um BRASILEIRO encontra-se com algum tipo de problemas no exterior o mínimo que deveriam fazer seria dar uma atenção, digamos… um pouquinho melhor, mais ágil e, dentro das possibilidades, uma atenção mais pessoal. A Embaixada do México no Brasil teve muito mais preocupação pelo meu problema do que a Embaixada brasileira. Atualmente o ciclista encontra-se na parte mexicana de Laguna Madre esperando a temperatura, que neste momento (pelas constantes frentes frias procedente dos Estados Unidos) está em uma média de 14 graus, suba um pouco para continuar a viagem.

México -  março de 2005 - Trópico de Câncer

Zé do Pedal estará cruzando amanha o Tropico de Câncer. De acordo com o ciclista, a viagem esta transcorrendo tranqüila e salvo algumas tempestades que atrasam um pouco a viagem, tudo está dentro do programado. Ainda de acordo com o ciclista o mesmo vem encontrando muito lixo nas praias “estou passando por quase 300km de praia deserta, e ainda assim encontro bastante lixo, como trator, partes de automóveis, tanques de gás, tanques de gás de freon e até a asa posterior de um caça americano encontrei”.

O barco, que foi batizado com o nome “LIBERDADE”, é “uma homenagem aos sonhos de todos aqueles que, como eu, sabem que as fronteiras do mundo são apenas uma situação geográfica. O ciclista vem realizando palestras em escolas, Lions Clube (Jose é membro do Lions Clube de Viçosa – MG) e outros clubes de serviço, tendo já falado para mais de 800 pessoas, sempre mostrando fotos de lixo que ele tem encontrado nas margens das praias e canais de navegação por onde passa.

“Isso (as fotos) ajuda a conscientizar um pouco mais as pessoas, e cria um impacto muito forte nas crianças, o que ajuda bastante o meu trabalho de criar nelas (as crianças) uma real consciência ecológica, para assim, termos no futuro um planeta mais limpo e em melhores condições do que agora”.

México -  abril de 2005 - Ventos Fortíssimos

 Zé do Pedal chegou ao porto de Tampico, no estado mexicano de Tamaulipas, terminando assim os quase 500km da etapa mais difícil de sua viagem na parte mexicana. Durante a travessia que durou quase 45 dias entre Playa Bagdad (Matamoros, fronteira México/USA) até o Porto de Tampico, Zé do Pedal enfrentou 14 NORTES (ventos do Norte de até 80km/h) e a mesma quantidades de SURADAS (ventos do Sul com velocidades idênticas). O ciclista também encontrou, durante os dias, centenas de golfinhos, tartarugas, marlins, gaivotas, etc... Já em terra, encontrou Escorpiões, Tarântulas e cobras cascavel... De acordo com o ciclista estas tempestades atrasam bastante a viagem, "porém agora que vou entrar na Laguna Tamiahua, no estado de Veracruz, a viagem vai render um pouco mais, pois vou ter bastante águas tranqüilas, principalmente quando eu passar da capital do estado" declarou o ciclista, que foi recepcionado em Tampico por dezenas de jornalistas dos diversos meios de comunicação da cidade portuária. O ciclista deve aproveitar o fim de semana e o temporal (está passando outro NORTE pela região) para fazer alguns ajustes no barco e seguir viagem.

 

México -  maio de 2005 - Zé do Pedal naufraga no Golfo do México

O ciclista foi socorrido por um pescador 5 horas depois que seu barco fosse virado por uma onda de 3 metros de altura. De acordo com o ciclista, o mesmo foi surpreendido por um temporal com ventos norte de 60km/h o que fez com que o mar ficasse bastante agitado, não dando tempo para que o mesmo buscasse refugio na praia.

Atualmente o ciclista encontra-se na casa de um pescador em Nautla recuperando-se de alguns cortes na coxa direita.

No acidente Zé do Pedal perdeu alguns documentos, recortes de jornais, câmara de vídeo, relógio e outros objetos pessoal. Zé do pedal informou ainda que o acidente não o fará desistir da viagem. "Foi apenas um acidente de percurso e não deve modificar meus planos" Desde que começou sua aventura em terras mexicanas o ciclista vem enfrentando, pelo menos uma ou duas vezes por semana, fortes temporais com ventos de ate 80km/h.

México -  junho de 2005 - Zé do Pedal enfrenta sua primeira Tormenta Tropical

O ciclista informou que a Tormenta Tropical Arlene (a primeira de uma lista de 12 nomes divulgada pela Administração Nacional Atmosférica e Oceânica (siglas em inglês: NOOA) tocou terra na última quarta feira, 15 de junho, na localidade de Arrecifes, a uns 6km do farol localizado na comunidade de Perla del Golfo. Foi horrível, eu estava a uns 1000 metros da costa, de repente o mar ficou agitado e quando olhei para o noroeste vi que o céu estava muito escuro. Resolvi dirigir-me para terra firme e quando ainda faltavam uns 300 metros para chegar a praia as ondas se levantaram a quase 4 metros de altura, logo veio um forte vento seguido de um aguaceiro.

O vento tinha uma velocidade aproximada de uns 90km/h. A tormenta Tropical esteve a ponto de se transformar em furacão em diversos momentos, quando seus ventos alcançaram mais de 97km/h. O ciclista comentou que pouco foi a informação que obteve antes do fenômeno, e que os pescadores haviam comentado que estava por vir um “Norte” (cujo vento atinge mais de 90km/h), mas que não se preocupara pois o mesmo ia vir “suave”. É para mim uma situação bem difícil o não contar com informações precisas. Possivelmente vou parar a viagem no próximo mês até que (a temporada de furacões) passe.

México -  setembro de 2005 - Problemas com o visto

Apesar dos problemas com autoridades mexicanas de imigração, que lhe concederam apenas um visto para atravessar o país, o ciclista comentou que se encontra muito bem impressionado com a receptividade dos norte-americanos e mexicanos. "Em todas as vezes que tive oportunidade de visitar os Estados Unidos, eu nunca havia sentido tanto a generosidade e a amizade das pessoas. Hoje, quando passo no cais, as pessoas me cumprimentam, convidam para dormir, comer e algumas até rezam por mim, o que aumenta a minha felicidade". "Estou tendo a oportunidade de ter um contato mais pessoal com eles, conhecendo mais de perto sua cultura e sua maneira de ser. Quanto ao mexicano, este é um povo alegre e carinhoso (com alma de brasileiro). México é um pais maravilhoso, porém, o mais bonito do México é seu povo".

O momento que mais o marcou, diz Zé do Pedal, foi quando ele recebeu de um funcionário da Marina Gratitude um remo de presente. "Ao dar minhas primeiras pedaladas, de repente me veio à memória o barranqueiro do Velho Chico, seu Colo, em um longínquo dia de marco de 2002. Nessa ocasião ele disse (com toda sua experiência de meio século de rio São Francisco): 'Leve este remo meu filho, você vai precisar muito dele'. Naquele momento, bateu uma saudade do velho barranqueiro. Saudades de suas historias e de seus causos. Lembrei quando vi seus olhos encherem de lagrimas quando falava com saudades de seu velho amigo: seu Velho Chico. Foi um momento muito especial". Os próximos dias serão, ao que tudo indica, bem difíceis para Zé do Pedal, pois, até chegar a Cancun (no estado Mexicano de Quintana Rôo), o ciclista tem quase 150km de manguezais por adiante, em uma região bastante desabitada onde poderá encontrar inclusive com jacarés que habitam naquelas paragens, aparte das constantes chuvas, trovões e relâmpagos próprias da temporada. O mau tempo na região de Yucatán, fez com que o ciclista ficasse 15 dias em Progresso esperando passar as tempestades. Enquanto esperava Zé do Pedal proferiu palestras em 3 escolas de Mérida e uma Universidade reunindo mais de 250 crianças e jovens.

México -  setembro de 2005 - Avarias no barco

O ultimo acidente foi devido aos fortes ventos e a ondas de quase 2 metros de altura devido ao furacão Rita, no Golfo do México. O acidente ocorreu no ultimo dia 22 de setembro, entre Dzilan de Bravo e Rio Lagartos, em uma região de manguezal de difícil acesso o que o obrigou a retornar a Dzilan de Bravo. Durante o acidente, o chasis do barco e a estrutura externa ficaram completamente retorcidos (algumas partes quebradas) ficando (o barco) fora de nível o que vem dificultando sua navegabilidade. "Antes estava fazendo uma media de 70km por dia. Agora, com o barco danificado, apenas estou conseguindo avançar uns 15km diários...Tá muito difícil fazer manobras e (o barco) sempre esta indo para a direita". Esta entrando muita água nos flutuadores e a esponja de poliuretano no interior do barco esta toda encharcada de água. Possivelmente eu faça uma interrupção na viagem ate conseguir financiamento para comprar outro barco e equipamentos para continuar a viagem. Durante seu recorrido até agora, Zé do pedal enfrentou quatro furações, duas tormentas tropicais, e 25 Nortes (ventos nortes com ate 90kmh) dos quais, quatro Nortes e uma tormenta (derivado do Rita) conseguiram virar o barco.

México - outubro de 2005 - Ciclista Brasileiro isolado em Tapachula

 Depois de interromper sua viagem devido ao furacão Rita, Zé do Pedal se encontra na fronteira entre o México e a Guatemala impossibilitado de continuar por causa do furacão Stan que arrasou o sul do México, deixando milhares de mortos e desabrigados. O ciclista informou que na região várias pontes foram destruídas depois que os principais rios transbordaram.

Faltam alimentos, colchões e remédios. O risco de epidemias começa a se tornar uma ameaça. A comunicação é precária e apenas hoje consegui acessar a internet. Enquanto espera que a água volte ao seu nível normal, o ciclista ofereceu seu carro de apoio e seus rádios comunicadores a associações civis que estão trabalhando na região e também está prestando trabalho voluntário.

Zé do Pedal deve permanecer por pelo menos uns 20 dias em Tapachula até que os caminho sejam reabertos e possa continuar, agora de carro, até o Brasil.

Nicaragua - outubro de 2005

Depois de passar 20 dias ilhado na Fronteira do México devido aos danos das estradas causados pelo último furacão conseguiu chegar de carro até a Nicarágua, onde deve ficar mais três dias até que a próxima cidade tropical passe pela região. Vou esperar para ver como esta tormenta tropical se comporta, para depois seguir viagem. "Não quero ter outra experiência como a de Tapachula", declarou o ciclista que levou 14 horas para percorrer os 300km entre a fronteira do México e a cidade de Guatemala devido a inúmeras quedas de barragens.


Zé do Pedal conta com o apoio de Buddy Davenport (New Smyrna Beach, USA) Prophish, (www.prophish.com, Estados Unidos) e dos Clubes de Leões das cidades por onde passa.