Sua oficina está preparada para atender o cicloturista?

| Por: Eliana Britto Garcia - Clube de Cicloturismo do Brasil |

Todo e qualquer uso da bicicleta exige um alto grau de responsabilidade do mecânico. Vendo pelo lado do cicloturismo, isso é ainda mais crucial, porque andamos com a bicicleta carregada e isto pode potencializar um eventual acidente. Além disso, vamos estar provavelmente a muitos quilômetros de distância de uma bicicletaria, e quando a encontrarmos pode ser em um local pequeno, que não tenha os recursos necessários para o devido reparo. É necessário levar em conta também, que em caso de acidente, poderemos estar bem longe de recursos médicos.

Acompanhando os eventos do Clube de Cicloturismo nos últimos 16 anos (2017), lidamos com público das mais variadas regiões do país e pudemos perceber o despreparo de boa parte das bicicletarias. Como em qualquer área, sempre vai haver o bom e o mau profissional, não se pode generalizar, mas infelizmente sob nosso ponto de vista a prestação de serviços nas oficinas mecânicas de bicicleta em muitos casos ainda deixa a desejar.

Sofremos na pele e muitas vezes tivemos que contornar problemas de descuido mecânico em bicicletas que acabaram de sair da revisão. É comum presenciarmos erros como freios soltos ou mal regulados, ar no sistema de freio hidráulico, corrente incompatível com o sistema de marchas, cabos de marcha utilizados no lugar dos de freios, guidões, mesas e selins mal fixados, marchas desreguladas, além de peças incompatíveis, etc.

Mas o que fazer em relação a esta situação? Em nossa opinião, podemos atacar o problema em duas abordagens. Uma delas é diretamente na oficina mecânica, que deve buscar investir mais em treinamento e capacitação das equipes, e ao mesmo tempo exigir mais responsabilidade. É de extrema importância também, que seja dado o tempo necessário para que cada bicicleta seja atendida, pois sabemos que a sobrecarga de trabalho e a urgência na entrega certamente provocam um número muito maior de erros.

A bicicleta de cicloturismo em si não apresenta nenhuma diferença que requeira ferramentas específicas. Mas é muito importante o mecânico conhecer as particularidades de uma bicicleta para cicloturismo, saber quais peças de reposição indicar e principalmente quando as trocar. Saber instalar e orientar o uso e cuidados com bagageiro, além de outros suportes e equipamentos usados no cicloturismo. Conseguiremos assim, resgatar a relação de confiança estabelecida entre mecânico e cicloturista.

A segunda forma de ajudarmos a resolver a questão é olhando para a outra ponta do problema, o cliente. Um cliente bem informado ajuda muito na hora de contratar um serviço. Sabe exatamente onde está o problema e sabe também qual peça vai querer utilizar e porque. Algumas marcas do setor e bicicletarias já perceberam essa vertente, e estão com uma ótima iniciativa de oferecer cursos básicos de mecânica.

Através do Clube de Cicloturismo sempre trabalhamos também neste sentido de ampliar o conhecimento sobre mecânica, oferecendo palestras, cursos e debates sobre a mecânica de bicicleta em viagens.

Estamos sempre abertos também para colaborar e trabalhar com o setor, de forma a fazermos crescer cada vez mais nosso mundo movido a pedal.

Publicado originalmente em parceria do Clube com a Aliança Bike em 26/09/2017:
http://aliancabike.org.br/noticia.php?intro=1&id_news=161