De Bicicleta no oriente: Nepal - Kathmandu

Namaste, pra todos!! É a segunda vez que estou em Kathmandu e é realmente surpreendente como a cidade esta vazia agora, muito diferente de outubro de 1999, quando nas ruas de Thamel - o distrito turístico - só se via caras ocidentais.

O monastério Ganden, onde perdi e recuperei minha câmera

Em parte por ser baixa temporada - época das chuvas - mas principalmente pelos últimos problemas políticos, os turistas não querem dar as caras aqui pelos Himalayas. Bem, ainda de ressaca da "festa do Penta", vou tentar contar como foi a viagem de Lhasa até aqui.

Ao todo, foram 900km em 14 dias, com apenas 150km de asfalto, por vales entre 3.500 e 4.500m de altitude - no Tibete - cruzando seis passos acima de 5.000m. Do último passo até Kathmandu é um longo down hill de mais de 150km, baixando-se mais de 4.000m. Ver mapa.

No passo de Kamba, com três peregrinos

Deixei Lhasa após uma aventura pra "resgatar" minha câmera nova, que havia perdido numa visita ao monastério Ganden, a 30km de Lhasa. Os dois caras que haviam-na encontrado queriam US$100 pra me devolvê-la.

Tive que fugir correndo e descer 500m de montanha até a estrada pra Lhasa, com os caras me perseguindo e fiquei dois dias com as pernas doloridas de tanto correr.

 

 

O caminho a Gyantse e Shigatse foi razoavelmente tranqüilo com apenas um passo difícil - o Kamba-la, 4.800m - com estrada ruim e sol muito forte, mas com uma grande recompensa: a vista do lago Yandrok, um dos lagos sagrados do Tibete.

O lago Yandrok, um dos lagos sagrados do Tibete

O passo de Karo - 5.050m - foi bem mais fácil, com belíssimos glaciares no topo. A descida foi primeiro por uma garganta fechada que se abria em um vasto vale, onde pude ver, de muito longe, as tradicionais caravanas de yaques. Em Gyantse e Shigatse, belíssimos monastérios, em especial o Tashilumpu, em Shigatse.

Dali pra frente, a estrada ficou muito mais difícil. Já estava sentindo o efeito da poeira acumulada nos pulmões o que, aliado à altitude - acima de 4.500m - dificultava muito a respiração.

No passo de Karo, 5050m, e glaciar ao fundo

Os 25km de subida do Gyantso, passo mais alto de toda a rota, 5.250m, foram extremamente duros e tive que empurrar a bike nos 15km finais, o que levou nada mais nada menos que 6 horas. Do topo, desci para o último vale e encontrei um casal holandês, também em bike e também sofrendo com a altitude e a poeira.

Yaques em caravana

O vale do Tingri é belíssimo e é onde se avista, pela primeira vez, os Himalayas - em particular o Shisha Pangma (8.015m), o Cho Oyu (8.150m), o Makalu (8.475m) e o mais alto do mundo, o Qomolangma (8.850m), mais conhecido no ocidente como Everest, nome do cara que primeiro mediu a altitude exata da montanha. Infelizmente, por falta de tempo - o meu visto estava pra acabar - não tive tempo de fazer o trekking até o monastério Rongphu, que fica na base do Qomolangma e oferece uma vista simplesmente "superb" da face norte da montanha.

É um trekking que partindo de Tingri, leva uns 6 a 7 dias e só tinha 4 dias pra chegar à fronteira.

O monastério em Gyantse

Mas não tem nada, não! Ele vai estar lá por mais alguns milhões de anos, de modo que vou ter tempo suficiente pra vê-lo. Atravessei o vale e iniciei a subida ao último passo - na verdade um passo duplo: o Lalung-la e o Tong-la, a 5.150m. Os Himalayas fornecem uma ótima barreira contra a umidade que vem do sul (Índia) - dai o Tibete ser tão seco - mas não pro vento!

O monastério Tashilumpu

E assim que a estrada aponta pra sul, começa um vento contra e frio terrível, fazendo as subidas dos ultimo(s) passo(s) bem desconfortável. A essa altura, eu já estava meio "baleado" por todas as dificuldades do Tibete e não via a hora de descer pro Nepal.

Monge em apresentação musical no monastério Tashilumpu

Dormi minha última noite - muito fria - entre os passos e a manhã despontou belíssima, com um visual espetacular da cadeia de montanhas mais alta do mundo.

Completamente solitário no silêncio do Tong-la, me despedi do Tibete, já cansado de toda a dureza que é viajar por lá, mas completamente satisfeito por ter realizado um antigo sonho...

Dali, iniciei a longa descida. São mais ou menos 150km de descida do Tong-la até onde a estrada deixa o vale do Bothekosi - aproximadamente 800m de altitude - uma "senhora" baixada de mais de 4.000m.

Vendedora de calcados típicos tibetanos em Shigatse

Os primeiros 20km foram íngremes e foi só deixar a bike ir, controlando os freios, é claro.

Depois veio um trecho mais plano e o vento contra fez a pedalada muito difícil, até a vila de Nyalam, a 55km do passo.

Até aí, a paisagem ainda é tibetana, mas de Nyalam pra baixo, tudo muda. A estrada passa a seguir o rio Bothekosi, o vale vai estreitando, as árvores e a umidade vão aparecendo e o vento vai diminuindo.

 

Placa indicando a estrada pro Qomolangma, ou Everest

 

De repente, estava numa zona tropical muito úmida, com inúmeras cachoeiras e estrada péssima. A 90 km do passo, cheguei a Zhongmu, a última cidade antes da fronteira, onde dormi. Última chance pra comida chinesa e pra trocar o que resta de yuan - a moeda chinesa - pra dólar.  Dia seguinte, 29 de junho, às 11 da manhã, estava em Kodari, a primeira cidade do Nepal. Namaste!!!!, é o cumprimento nepales, como o indiano.

No Tong-la (5.150m), com os Himalayas ao fundo

E dá-lhe incenso, música indiana e caminhões Tata.  Ali comi o primeiro Dhal Bhat em dois anos - arroz e ensopado de lentilha e legumes - o sabor da Índia!!! Segui descendo em uma atmosfera completamente diferente do dia anterior e, quando a estrada deixa o vale do Bothekosi, estou a 55km de Kathmandu.

No Tong-la (5.150m), com o Everest ao fundo

Dali na carroceria de um caminhão sigo à capital do Nepal, a velha e boa Kathmandu pra descansar e me preparar pra grande festa do penta. E foi uma "extravaganza"!!! Tomei 5 garrafas de Carlsberg, porque não havia Antártica...

 No Tong-la (5.150m), com o Shisha Pangma ao fundo

Só faltou a feijoada, então fui de pizza. Foi uma completa extravagância que não será repetida nos próximos 4 anos. É isso! Agora um descanso merecido, um trekking pra matar a saudade das montanhas e, em agosto, Índia!!!

Descendo para o Nepal

(Uttar Pradesh, norte da Índia e Oeste do Nepal), de volta aos Himalayas pra uns seis meses de Yoga e meditação.Um grande abraço a todos e muita paz, amor e felicidade... Roberto

A descida pro Nepal

 

 

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