Pedalando e educando: 32º Relato

37° Diário - julho de 2004 França

Bonjour amigos!

Durante a longa parada no norte da França, pedalei pouco mas não fiquei parado. A participação no Encontro de Cinema e Infância de Le Havre foi ótimo e me rendeu mais energia para seguir a longa viagem.

Rota percorrida até aqui

A FRANÇA
França é um país lindo e, não por acaso, o mais visitado do mundo. Todo o ano cerca de 70 milhões de turistas visitam a terra dos queijos e vinhos e vivem um pouco do seu esplendor cultural.

 

Paris

Paris é uma das mais importantes capitais culturais do mundo. Seus museus, cinemas e teatros estão sempre abarrotados de pessoas.

O ciclo funciona - existem muitos querendo ter e muitos querendo fazer arte. Bom para os artistas, para os usuários, para a cidade e para a vida. Os urbanistas de Paris tiveram a idéia de não misturar a sua bela arquitetura clássica do centro da cidade com os edifícios contemporâneos.

Algumas escolas visitadas na França

Para estes foi reservada uma área de business no eixo da Champs-Elysees onde fizeram a escultural Arche de la Défense e a maioria das construções high tech necessárias, mantendo a característica das áreas nova e antiga.

Visitei algumas escolas e me impressionei com com a qualidade e respeito que possuem pela educação. Cem por cento dos seus 60 milhões de habitantes (2002) possui educação primária!

Tudo é muito lindo mas é difícil esquecer que, por trás de tanta riqueza, existem também as tristes histórias de colonizações e guerras. Muitas belezas daqui estão, por exemplo, refletidas nos problemas que vi nas ex-colônias francesas do sudeste asiático.

O clima é temperado oceânico e o tempo é totalmente imprevisível. Depois de um dia de sol, estendi a barraca sem a proteção de chuva para poder ficar vendo a lua cheia até dormir.

No meio da noite acordei com uma tempestade com raios e trovões. Aqui é assim - o tempo muda todo tempo. França é o país que recebeu a maior quantidade de estrangeiros nos últimos 150 anos na Europa. Muitos vêm das ex-colônias africanas para Paris.

Isso gerou uma miscigenação incrivelmente rica que se transformou numa característica marcante da população parisiense. Nas estações de metrô são possíveis escutar idiomas do mundo inteiro.

Apesar da riqueza multicultural que os estrangeiros proporcionam, uma parte dos franceses acredita que muito da violência e dos problemas sociais é resultado direto dessa imigração.

Nas últimas eleições, em 2002, o candidato de extrema direita, Le Pen, deu um susto no mundo quase sendo eleito presidente com sua política de antiimigração racista.

As eleições foram para o segundo turno e, graças à mobilização dos jovens franceses, Jaques Chirac ganhou as eleições e seguiu no poder.

A consciência ambiental é relativamente boa mas ainda existem muitos problemas. Utilizam muitas embalagens plásticas desnecessárias e muita energia. França é o segundo maior consumidor de energia per capta do mundo, perdendo apenas para os americanos.

"A dependência em energia nuclear é um sério problema. Reatores nucleares operando no país geram três quartos do consumo nacional de eletricidade, fazendo da França o segundo maior produtor de energia nuclear, depois dos EUA." New Internationalist Para muitos cientistas franceses, a solução mais viável para diminuir o aquecimento global é utilizar transportes públicos e bicicletas para locomoção.

Gráfico de consumo de eletricidade per capta em 1996 (Fonte PNUD 1999)

Por aqui já existem atitudes para isso - carros particulares são mal vistos e pagam caro pelo luxo de rodarem nas ruas do centro e, cada dia mais, as pessoas preferem utilizar os bons metrôs, ônibus ou a respeitada bicicleta.

 

PARIS-LONDRES A pedalada de Paris para Londres foi ótima. Fiz a viagem junto com a amiga canadense Alexandra e tivemos sorte com dias de sol.

Infinitas guerras e questões diplomáticas fazem da ligação entre Paris e Londres um curioso caminho. O rumo norte, seguindo o importante rio Sena, é maravilhoso por sua arquitetura de pedras e fortificações que protegem o acesso a Paris pela água.

Estrada para Normandia

Ali tudo parece perfeito - as casas estão sempre lindas, a grama cortada, a estrada sem buracos... e tudo enfeitado com as coloridas tulipas.

Algumas praias possuem até pisos de madeira para você não machucar o pé nas pedras. Que luxo! Nada de pobreza ou miseráveis pela rua.

Litoral da Normandia

O brio francês, na sua eterna luta contra a soberania da língua inglesa no mundo, faz com que nas áreas rurais ainda seja possível encontrar pessoas acreditando que aprender uma segunda língua faz mal para o raciocínio! Por falta de interesse, lendas, preguiça ou orgulho, muitos não falam absolutamente nada de inglês.

Plantação de colza

Aqui tudo é muito caro, principalmente a mão de obra. Nas bem organizadas plantações quase tudo é feito por máquinas.

Um camping aqui pode custar mais de dez euros uma noite! Para adaptar meu "sofisticado standard" de vida ao custo local, armei minha barraca pelo caminho, na beira dos rios, lagos ou praias.

Igreja na Normandia

As imensas igrejas góticas contrastam com as pequenas vilas. Nas suas fachadas, as esculturas das pessoas em pânico no inferno deixam clara a pressão psicológica da época.

Hoje 76% da população é católica (2003) mas a pressão é claramente menor e a nova geração se interessa muito menos pela religião.

Rouen

Atravessamos o Canal da Mancha entre Cabourg e Southhampton e, na rápida visita pela Inglaterra, pedalamos um dia até Londres e depois fizemos vários passeios pelos caminhos de bicicleta beirando os canais da capital.

Tanto em Londres quanto em Paris fiquei na casa de amigos e isso me ajudou a conhecer melhor as cidades. Tentar explicar essas cidades seria uma bobagem. Cada uma possui seus milhares de mundos.

Símbolo de desenvolvimento

Estive em Londres durante o vazamento das notícias de torturas dos prisioneiros da Invasão do Iraque. Ali, diferente dos EUA, a imprensa não abafou as notícias e as fotos saíram em todos os jornais.

Assim como os italianos, os ingleses que encontrei também são contra as atitudes de seus governos e querem o fim da invasão. É incrível - já passei pela Itália e pela Inglaterra e ainda não encontrei ninguém a favor da guerra... mas ela continua. De Londres voltei para a França e passei dois meses na "conexão férrea Paris-Le Havre".

ENCONTRO INTERNACIONAL DE CINEMA E INFÂNCIA

Quando passei pelo Egito, conheci a diretora do Centro Le Volcan, Ginette Dislaire, que me convidou a participar de seu projeto Correspondêcias Filmadas e do Sétimo Encontro Internacional de Cinema e Infância de Le Havre.

Editando os filmes

Sua idéia é comunicar crianças de diversos países através de mensagens enviadas por vídeos. Abracei a idéia e desde então comecei a gravar mensagens de estudantes que visito no caminho.

No Encontro que ocorreu entre os dias 17 e 24 de junho, fiz uma exposição de fotos e dos equipamentos da viagem - bicicleta, barraca, etc. e apresentei as correspondências filmadas de crianças da Grécia, Itália, do projeto Miguilim em Cordisburgo, Brasil, e um pequeno vídeo sobre a minha viagem.

Exposição de fotos

No Centro Nacional Le Volcan tive todo o apoio para editar os filmes. Uma equipe profissional me ajudou muito e, além das pessoas, tive acesso a equipamentos e softwares de ponta para trabalhos de vídeo. Obrigado Le Volcan!

Le Havre é um importante porto no norte da França onde o rio Sena deságua no mar do Norte. O cidade foi completamente destruída durante a primeira guerra mundial e, para reconstruírem rapidamente, convidaram o arquiteto Perret que, com seu cimento ortogonal, fez uma cidade contemporânea funcional.

Le Volcan

Para contrastar com sua arquitetura, convidaram as curvas brasileiras de Niemeyer para, na principal praça da cidade, construir o Centro Cultural Le Volcan.

 

NA ESTRADA OUTRA VEZ
Voltar a pedalar foi necessário também para refletir sobre todas essas belas coincidências que ocorreram no meu caminho. Os bons amigos de Le Havre, de Paris, a família e as crianças do Encontro foram belos presentes que recebi me dando mais energia para seguir a viagem. Agora estou pedalando para o sul da França com a amiga Isabelle que, quando fez uma volta ao mundo de bicicleta, passou pelo Brasil e ficou hospedada na minha casa. Como o mundo é pequeno! Partir de Paris foi como sair de casa novamente. Ali ficaram minhas duas irmãs e bons amigos. Para a despedida fizemos uma festa na beira do Sena.

Festa de despedida na margem do Sena

Aqui estou passando pelo maciço central da França e, quanto mais pedalo para o sul mais montanhas aparecem. Na estrada estou vendo muitas plantações de grãos, a maior atividade agrícola do país. Os dias são longos e o sol se põem apenas às dez horas da noite.

Muitas das pequenas vilas são feitas de pedras. Atravessá-las é lindo mas é difícil encontrar pessoas nas vilas não turísticas. Agora é férias de verão mas não existem crianças nas ruas.

Nas poucas casas que entramos vimos as crianças na frente da televisão ou computador - terrível!! Por favor, se você estiver lendo esse relatório também passando o dia na frente do computador durante suas férias, desconecte-se da vida virtual e saia para fazer algum esporte e conhecer pessoas. Utilizar a internet pode ser bom mas é preciso moderação. Daqui seguirei para a Romênia pela margem do rio Danúbio. Estou explicitamente fora da rota para o Brasil e feliz em estender a viagem. Além dessa "pequena curva" pretendo também visitar melhor o continente irmão, a África, pedalando de Uganda até a África do Sul. Até a próxima, Argus


PATROCÍNIO: Cultura Inglesa T-bolt Mountain Bike by Proton Edar
APOIOS: Atex Lajes Nervuradas, BHZ Arquitetura, SOL Serviços On Line, Telsan Engenharia, Prudential Bradesco e Rotary Club
*Os Textos completos você encontra no site: www.pedalandoeeducando.com.br

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