Noruega: Viagem de Bike na Noruega

NORUEGA Viagem de Bike na Noruega

Viagem de bicicleta na Noruega, das cidades  de Tromsø que fica no círculo de latitude 69°40′N até Bergen na latitude 60°22′N, região do círculo polar. Um percurso que, por estrada equivale à 1800 km. A aventura durou 20 dias, cortando os fiordes pela costa daquele país! Com natureza exuberante e um verão de claridade 24 horas.

Uma pausa na faculdade e fui viver 2 anos  na Noruega: estudar e trabalhar, conhecer o mundo. Neste período a minha paixão pela natureza cresceu muito. A cultura daquele país é muito influenciada pela natureza, pois o país possui fiordes e montanhas.

O montanhismo e esqui são as paixões nacionais. Pensei em uma maneira de fechar com "chave de ouro" o meu período de estada no país, e por que não fazer uma viagem de bike?

Na preparação, eu estava morando em uma cidade mais ao sul. Quase todo dia pedalava para ficar em forma e sempre nadava nos lagos. Lá não era tão frio (cerca de 20ºC de dia). No dia anterior à viagem de avião rumo ao norte eu participei de uma meia maratona. Fiquei com o pé doendo uns dias e cheguei em ultimo. Mas não muito longe dos últimos!

Peguei o avião em Oslo com uns 18ºC e cheguei em Tromso, com uns 7ºC. Senti aquele frio e quase desanimei.

Mas não estava abaixo de zero. Fui no verão, por isso só tinha neve nas montanhas. Portanto não cheguei a pedalar na neve, mas sabia que na neve é necessário pneu especial, que é como o pneu de carro para neve, tem uma espécie de pregos na superfície, para dar maior aderência.

Outras coisas que descobri que são usadas em viagem na neve são: capa de chuva para o capacete, alem de luvas bem caras e quentes, que mesmo molhadas mantém a mão aquecida (parece que são de pele de tubarão). O fogareiro comum também não funciona, o frio apaga a chama. É necessário algo chamado storm kitchen que é fechado em volta. Além disso o saco de dormir deve ser diferente e a barraca precisa de ser mais parruda, de preferência com varanda pra cozinhar.

Fiz o trajeto pelas vias costeiras, utilizando estradas e ferri-boats que trafegam cortando os fiordes. A cidade de Tromsø, fica ao norte do círculo polar ártico, e possui a universidade mais ao norte do mundo. Como comentei, estava bem desanimado. Numa das primeiras subidas, encontramos com um grupo de renas (iguais as do Papai Noel) e me pareceu que até elas estavam com frio: 3ºC e chuva! Tive saudades do sul. Além disso meus joelhos, por um problema de infância e porque não estavam aquecidos e fortes o suficiente, estavam doendo muito. Tive que pedalar bem devagar, o que fez com que meu amigo norueguês tivesse que esperar bastante. Na verdade ele ficou irritado comigo porque eu sabia do problema no joelho e mesmo assim entrei numa viagem tão longa e difícil como esta. Rezei e a dor foi passando (todo dia de manhã eu pedalava uma hora devagar e depois puxava).

Para minha sorte, o tempo esquentou e firmou. Depois ficou mais ou menos estável quase toda a viagem. Isso foi uma exceção: lá a paisagem é linda, mas a instabilidade do tempo é diretamente proporcional a beleza do lugar. A partir daí, o frio ficou no máximo nos 10 graus.

Eu tinha roupa sintética para pedalar e a noite usava umas roupas e ceroula de lã de ovelha, além de jaqueta pra chuva e meias de lã É o suficiente, mas acho que é difícil e caro comprar essas coisas no Brasil. tinha também dois calcados. Um tênis leve pra pedalar e uma bota meio leve (uns 500g) de caminhada. Levei também umas havaianas, mas acabei deixandoi no caminho.

A aventura teve três etapas. Na primeira parte, contei com a ajuda desse meu amigo norueguês Tor Harald (Toto), experiente em viagens de bike, com uma travessia da China no currículo! Fomos desde Tromsø até o extremo sul das ilhas Lofoten!

Esta foi certamente a parte mais bonita do percurso, com claridade 24 horas, sol da meia noite, e natureza exuberante! Muito bacalhau, turistas de trailers e tranqüilidade: a região é pouco habitada! Muito bom pedalar com essa luz em tempo integral! Não tem hora pra parar, nem precisa de lanterna. A primeira vez que vimos o sol da meia noite, pedalamos ate as duas da madrugada e fizemos uns 120 km.

O grande desafio desse trecho foi terminar a parte do percurso das ilhas Lofoten antes do barco que íamos pegar carona chegar. Chegamos de manhã no cais do porto. Tomamos uma cerveja e fumamos um charuto pra comemorar. Toto queria ir até o fim da rodovia, que fica uns 17km mais à frente.

Eu fiquei no cais. Tinha comigo um molinete pequeno e fui pescar. Havia muita gaivota, muita mesmo, o que indicava muito peixe. E era verdade, fiquei pescando durante algum tempo e peguei dois bacalhaus, que eram relativamente grandes e três peixes de uma qualidade chamada makrell Era muito fácil pegar, era só jogar a isca que o peixe fisgava, sem luta.

Tinha tanto que teve uma hora que vi outro peixe seguindo a isca com o peixe fisgado. O meu molinete era bem pequeno e fiquei com medo dele quebrar. O maior devia ter 1,5kg e, quando o barco chegou, convidamos nossa amiga que trabalhava no tal barco para tomar uma sopa de bacalhau, que fizemos no fogareiro: delicioso!

Já no continente, me despedi de Toto. Começava então a segunda etapa, onde Judith, da Alemanha, se juntou a mim, para cumprir o percurso "centro norueguês" desde Sandnessjøen até Molde. Como não estava tão frio, em um dos dias nós tentamos dormir fora da barraca. Depois nunca mais fizemos isso, porque tinha uma quantidade inacreditável de mosquitinhos (esses que ficam na cara da gente).

Neste trecho em que a Judith estava comigo, teve um dia que havia tantos mosquitos que não deu nem pra armar a barraca e comer direito. Por causa desses bichinhos tivemos que trocar o horário da refeição quente (que fazíamos 1 vez por dia). Deixamos de comer antes de dormir pra comer no inicio da tarde. Na hora de dormir, armávamos a barraca rápido antes que eles viessem. Era realmente muito irritante todos estes mosquitos na cara.

Infelizmente Judith ficou ruim do estomago em Molde. Esse era um dos único medos que eu tinha, ter algum acidente ou ficar doente. Até chegar em Tronheim (uns 2/3 da viagem) não havia nenhuma cidade grande. Pois bem, minha amiga ficou doente justo nesta parte e teve que me deixar. Acho que a gente comeu algo estragado na casa de amigos onde passamos.

Eu fui em frente só. E um dia depois também fiquei ruim do estomago. Sofri muito, mas estava a uns 60 km de cidade onde tinha muitos amigos (Alesund). Fui me arrastando e uma amiga norueguesa me buscou a uns 10km de sua casa com uma vã. Repousei dois dias lá, fiquei bom e continuei.

Dali continuei sozinho a terceira etapa, a dos grandes fiordes. Essa foi à parte mais difícil, pela solidão e cansaço. Encarei subidas de até 1.000 metros acima do nível do mar, e passei por regiões de neve, montanhas e fiordes: O ponto alto foi o Fiorde Geiranger, considerado patrimônio natural da humanidade pela Unesco.

É ótima a sensação de não precisar de olhar no relógio, não ter que ver e-mail, enfim não precisar de ter contato com o mundo cotidiano . Parecia que eu estava em outro mundo, um mundo em que não precisava me preocupar com nada. Nem mesmo com a água, que geralmente é um grande problema nas viagens, eu precisava me preocupar. Todo lugar por lá tinha água de desgelo, limpa e cristalina, pronta para beber. A bicicleta já estava cansada e em Byrkjelo fiz a última parada antes rumar para Bergen, cidade onde a aventura terminou! Ficou muita saudade, da natureza, dos amigos que visitei (visitei 7 deles durante a viagem) e com as dificuldades da viagem ficou também muito aprendizado. Agradeço a Deus que me sustentou durante todo o percurso e me deu força para cumprir uma aventura tão longa, mas muito bem recompensada.


Leandro Dobre Baptista dos Santos, Graduando de Administração de Empresas na USP Ribeirão Preto, já realizou viagens na Europa e América do Sul. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo."> Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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