Andes no Pedal

Andes no Pedal

Região de Ollagüe Bolívia

A viagem foi concluída com êxito total!. Foram ao todo 6.094km pedalados em exatamente 80 dias, de Cuzco no Peru até Puerto Natales na Patagônia Chilena. Foram 97 dias de viagem, incluindo ida e volta em ônibus e trem. Saí dia 19 de outubro de 2000 e retornei dia 24 de janeiro de 2001 e com orçamento total de R$2.326,00. Cruzando os mais diversos tipos de climas e regiões andinas através do sul do Peru, a Bolívia e seus incríveis e terríveis desertos de altitude, cruzando o deserto de Atacama e todo o Chile, a Argentina e seus ventosos pampas desérticos até os campos de gelo na parte mais austral do continente superando todos os meus limites físicos e psíquicos; posso dizer agora que sou um cara de sorte.

Não faltaram momentos de perigo pelas estradas e lugares inóspitos onde a natureza é inclemente porém belíssima. Não faltaram nem os tombos, um violento no último dia detonou a bike e quase quebrou minha perna para encerrar com ares de "batalha épica" esta grande jornada. Foram com certeza momentos de inesquecível beleza, contato com culturas e povos exóticos, lugares feios, cidades, amizades e as mais diversas condições climáticas que fizeram desta aventura a coisa mais significativa e louca da minha vida. Espero incentivar este esporte, o "cicloturismo", como sendo a melhor maneira de se viajar para quem gosta de aventura, bike e tem pouco dinheiro no bolso. A maneira mais econômica de viajar grandes distâncias, onde o aventureiro entra em contato direto com a vida real dos povos e sua cultura, descritas por eles mesmos, além de intenso exercício físico e mental onde a gente não espera a vida passar e nem passa a vida esperando, mas sim, a ultrapassando.

 

Grandes subidas nos primeiros dias

Andes Peruanos

A pedalada nos Andes Peruanos é caracterizada pelas intermináveis subidas e claro, descidas velozes beirando os 80 km/h em altitudes que ultrapassam os 4000 metros, muito sol e alguma chuva ocasional passageira. O clima é seco e a vegetação rasteira se mistura com alguns tipos de árvores como o eucalipto. As montanhas nevadas e o azul Lago Titicaca tornam o visual muito colorido.

Totora no lago Titicaca

Foram 630 km entre Cuzco até Tiquina na fronteira com a Bolívia por estradas bem asfaltadas costeando também o Lago Titicaca. Nesta primeira etapa dormi quase todas as noites em alojamentos vagabundos que são bem baratos evitando o frio intenso da noite e o perigo de assalto que no Peru parece se comum. O Peru é um país pobre onde até criancinhas de 5 anos costumam pedir dinheiro e o pessoal é muito curioso sempre ao redor puxando conversa nos pequenos pueblos. A comida é barata e não se deve beber água da torneira sem antes purificá-la. Cuidado com a carteira nas cidades.

Crianças pedindo "plata"

As cidades com exceção de Cuzco são feias e mal cheirosas, cheias de gente e grande poluição causada pelos veículos. Mas o Peru se tratando da natureza é um lindo e exótico país de população indígena que conserva seus antigos hábitos e culturas em festas e desfiles coloridos. Neste início de jornada pensei já exausto que ainda teria mais 6000 km para percorrer.

Início do Altiplano entre La Paz e Oruro

Altiplano Boliviano

Magnífico inferno é como pode ser definida esta região de inclementes desertos e lugares extraordinários no oeste da Bolivia. As estradas, ou melhor, caminhos, são de areia fofa, pedras e "costelas de vaca", sendo impossível pedalar quase toda a região, o jeito é empurrar arduamente a bicicleta pesada na areia fofa e quase sempre montanha acima.

Pueblo quase abandonado com o único morador

Durante o dia no verão, a temperatura é amena apesar do sol forte, porém à noite ela sempre cai para o negativo tornando as madrugadas um inferno gelado. Lá pelas 15h o vento que já era forte se transforma em vendaval frio e não faltam os "mini tornados" que lhe atropelam a todo momento. As altitudes beiram os 5000 metros tornando tudo ainda mais cansativo. Foram 1049 km percorridos em território boliviano sendo que destes, 419 km em asfalto desde Copacabana na fronteira com o Peru até o P.N.Sajama, depois na infernal terra por mais 630 km até a fronteira com o Chile.

Sabaya, típico pueblo do Altiplano

Se decidir pedalar nesta região prepare-se para ultrapassar todos os seus limites físicos. Paciência, força e perseverança é a única coisa que vai tirá-lo de lá ou com sorte uma carona numa 4X4 de turismo. Pueblos fantasmas, rios congelados, geisers, vulcões, lhamas e as combinações mais incríveis de cores da natureza estão lá, um cenário surrealista que lhe faz pensar que não está mais no planeta terra. De bike prepare-se para subir intermináveis serras empurrando a bike em meio a poeira e o vento seco. Os lugares de interesse são Uyuni, o grande deserto de sal, e os desertos que passam pelas Lagunas Colorada e Laguna Verde. Conselho: Se decidir cruzar de bike, não o faça, pegue um tur em Uyuni com camionetes 4X4 caso contrário prepare-se para o pior.

Vulcão Licancabur - Fronteira Bolivia / Chile

Atacama: O deserto mais árido do mundo situado no norte do Chile é um espetáculo a parte com diversas faces. Desde São Pedro de Atacama seguindo pela RUTA 5 Panamericana até La Serena, foram 1039 km pedalados entre regiões completamente desérticas e semi-desérticas e mais uns 300 km de carona devido a problemas com a bicicleta e alimentação.

Vale de La Luna

O Atacama pode ser cruzado inteiramente por asfalto mas é bastante difícil devido ao clima. O ar é completamente seco, em alguns lugares a umidade é 0%, não cai sereno na noite que é bastante fria com temperaturas de + ou - 5°C e durante o dia ela beira os 40°C porém como é muito seco, esse calor é mais confortável mas o sol impera e não há sombras para descansar, os ventos quentes e frios assolam o deserto.

Um lugar para passar a noite

As melhores horas para pedalar são das 5h da manhã até às 10h quando o sol esquenta e começam os ventos fortes vindos de sul tornando o esforço triplicado. Por todo lado existem minas de cobre, prata, ouro e outros vários metais e é só o que há além de pedras e baixas montanhas peladas. O trecho compreendido entre Antofagasta e Chañaral é extenso, quase 500 km e não há quase nada pelo caminho, só o mais puro deserto, a partir de Chañaral começa a aparecer uma vegetação rasteira "deserto florido" até Vallenar onde o deserto já está terminando.Lagos e Vulcões.

Cicloturistas

Após La Serena onde oficialmente termina o Atacama, foram mais 1071 km na região central chilena, passando pelas principais cidades como Viña del Mar, Valparaíso e Santiago, até Temuco onde inicia a região dos lagos e vulcões. Muito verde, imensos lagos azuis de águas cristalinas ao lado de imensos vulcões nevados e lindos bosques floridos.

Lago Rupanco

Foram uns 600 km nesta região onde desviei da Panamericana e segui por estradas secundárias entre asfalto e ripio conhecendo os lagos Villarica, Calafquén, Panguipulli, Peyehue, Rupanco e Llanquihue e os vulcões Villarica, Quetrupillán, Puntiagudo, Osorno entre outros. Nesta região há muitas opções de esportes radicais como rafting e trekking para subir os vulcões, alguns deles ativos como o Villarica além de outros tipos de turismo como cavalgadas etc. Existem belos balneários a beira dos lagos e alguns belos lugares para acampar.

Queulat - Carretera Austral

Patagônia: Entrei em região Patagônica atravessando o Golfo Corcovado por seis horas na embarcação, de Quellón na Ilha de Chiloé até Chaiten onde para mim iniciou a Carretera Austral e o visual transformou-se drasticamente dando lugar a uma exuberante vegetação e enormes montanhas nevadas, lagos esverdeados e canais marítimos. Foram 1384 km em território patagônico até Puerto Natales passando pela Carretera Austral e pela desolada Ruta 40 na Argentina onde os ventos alcançam normalmente 140 km/h.

Ruta 40 - Patagônia Argentina

Com certeza a Carretera Austral foi a região mais bonita que passei, com muitos lugares para acampar, muita água e verde ao redor. As estradas são todas em ripio de qualidades que vão de regular a pior, enormes e inclinadas subidas e descidas e uma chuva fria com ventos fortes que vem a toda hora. A quietude é algo de melhor, só se escutam os pássaros, o barulho da bike rodando e as rajadas de vento. A cada meia hora passa um veículo e os pueblos são pequenos.A comida não é barata devido ao difícil acesso sendo que no inverno toda esta região se transforma num gigantesco campo de gelo. Ventisqueiros, bosques alpinos, montanhas nevadas, rios de degelo, geleiras e desérticos pampas ventosos fazem de Patagônia uma das regiões mais selvagens e bonitas do planeta onde a cada curva uma exuberante e rica natureza se vislumbra. Os lugares de interesse são toda a Carretera Austral, O Lago General Carrera e as Torres del Paine do lado chileno. A Ruta 40, o Glaciar Perito Moreno e El Chalten, a capital nacional do trekking com o Monte Fitz Roy no lado argentino. O clima vai de moderado a frio no verão. Muita chuva do lado chileno contrasta com a falta dela no lado argentino. E há muitas opções para quem gosta de turismo de aventura.

 

Torres del Paine - Patagônia Chilena

Apoio: Vertex e Eucatur
Mais informações: www.zorek.net/sites/andesnopedal