Preparativos - Manual de Cicloturismo

Introdução Preparativos Bicicleta Equipamentos Saúde Pedalando

 

Convencendo parentes e amigos
O grupo
Roteiro
Bagagem
Condicionamento físico

 

 

Convencendo parentes e amigos de que você não está louco

Talvez seja esta a primeira etapa a ser vencida, quando se pensa em cicloturismo. Explicar aos parentes e amigos não viajantes o motivo de se viajar de bicicleta, pode ser complicado. Aqui vão as objeções mais comuns, esteja preparado e não desanime com as tentativas de desencorajamento.

1) Nossas estradas: Primeiramente, parece insano enfrentar, de bicicleta, as mal conservadas estradas brasileiras, muitas sem acostamento e todas com motoristas malucos. Realmente, algumas vezes temos que encarar alguns trechos destes, mas quase sempre há uma outra opção. A quantidade de estradas de terra mais aconchegantes e desertas é quase infinita. Temos a vantagem de chegar a lugares inacessíveis a outros veículos e conhecer lugares pouquíssimo explorados turisticamente.

2) Assaltos: Bem, este é um risco. Mas quem disse que um carro pode proteger, de alguma maneira, contra um assalto? A regra é a mesma para qualquer viajante, quanto mais longe das grandes cidades melhor. Se tiver que passar por elas mantenha os olhos bem abertos. 

3) Falta de autonomia: Se algum problema acontecer, você pode não conseguir alcançar uma cidade ou a ajuda necessária. É verdade, mas justamente nesta fragilidade da bicicleta é que ela mostra seu maior poder. As pessoas de qualquer lugar que você passe percebem esta situação e, por isso mesmo se dispõem a ajudar e acolher os cicloturistas. Quando passamos de carro a impressão que vai junto é a de que não nos importamos, ou nem precisamos das pessoas que encontramos pelo caminho. De bicicleta, todos sabem que é diferente, pois sempre vamos precisar de, no mínimo, água, informações e abrigo. E mais, estamos sempre mais acessíveis para uma conversa, coisa que a barreira do carro nos impede. Há, de alguma maneira, uma empatia gerada pela bicicleta. A bicicleta provoca uma confiança que não é alcançada nem mesmo quando se viaja a pé, apesar de se ter que enfrentar basicamente os mesmos problemas.

O  grupo

A escolha do grupo que vai viajar pode ser um dos itens mais importantes de todo o planejamento (exceto no caso de quem viaja sozinho, é claro). O ideal é que os companheiros de viagem se conheçam bem e, no caso de viagens mais longas, que já tenham feito outras mais curtas juntos. A todo tempo há decisões a serem tomadas durante uma viagem. Quanto pedalar a cada dia, onde dormir, que caminho tomar... Além disso, outras situações de estresse que normalmente surgem exigem um certo entrosamento para evitar surpresas. As pessoas podem revelar reações que eram desconhecidas até mesmo para os amigos.

Porém é interessante também, encontrar um equilíbrio entre a homogeneidade e a diversidade do grupo. Ou seja, é preferível que haja o mesmo tipo interesse entre as pessoas e que o preparo físico e principalmente o ritmo seja semelhante. Por outro lado, pode ser importante experiência dos viajantes em áreas distintas como mecânica, acampamento, primeiros socorros, etc.

Outra questão é o tamanho do grupo, que vai determinar antecipadamente as características de uma viagem. Com pouca gente, por exemplo, um grupo tem a vantagem de ser mais acessível para as pessoas, o que facilita fazer amizade. Além disso fica mais fácil tomar decisões ou encontrar um ritmo que seja conveniente a todos. Também é muito mais viável conseguir uma carona, num caso de necessidade.

Porém, num grupo maior carrega-se menos peso, pois muitos equipamentos podem ser de uso comum, como fogareiro, ferramentas, kit de primeiros socorros, etc. Enfim, não há um número rígido de participantes numa viagem de bicicleta, mas seguramente, com mais de cinco ou seis pessoas, a tarefa de organizá-la será bem mais complicada.

Roteiro

Se você não conhece o local para onde vai viajar, o ideal é conversar com alguém que conheça a região. Se essa pessoa for cicloturista e já tiver feito um roteiro parecido antes, melhor ainda. Além disso, consulte o maior número possível de sites, artigos de jornais e revistas (veja Arquivo e Viagens).

Alguns outros clubes que fazem reuniões periódicas, como clube de alpinismo, ou de jeepeiros, também podem ser uma fonte de informações. Procure saber se há algum na sua cidade ou na região que pretende visitar e entre em contato com eles.

Sempre procure saber qual a melhor época de se visitar o lugar, qual a época de chuva, qual o movimento nas estradas, etc. Uma dica: ao perguntar sobre o relevo, nunca confie muito na memória de quem passou de carro pelo local. Só quem viaja de bicicleta ou a pé, costuma se lembrar realmente das subidas do caminho.

Junte o máximo de informações que puder. Leve sempre mapas impressos, mesmo que pretenda se utilizar de gps ou celular, pois são a prova de falhas e baterias. Quanto aos mapas rodoviários (tipo Guia 4 rodas) tome cuidado, eles são feitos para quem anda de carro, e portanto, os erros de quilometragem são grandes (mais de 20 km às vezes) e não constam muitas das estradas de terra.

Se você vai passar por algum Parque Nacional, Estação Ecológica, ou coisa parecida, verifique antes, com o órgão responsável, se são necessárias autorizações ou reservas antecipadamente, se é possível pernoitar ou acampar, etc. No caso de viajar para fora do País, procure obter mais informações junto aos consulados no Brasil.

Bagagem

A quantidade de bagagem a se carregar é sempre opção pessoal de cada viajante, mas uma regra geral é que quanto mais auto-suficiente você estiver durante uma viagem, mais peso vai ter que carregar e menos dinheiro precisará gastar. Isto é, levando comida e equipamento para acampar, você carrega mais peso mas em compensação economiza com hotéis e restaurantes, e ainda fica mais livre para rodar a quilometragem que quiser sem ter que obrigatoriamente alcançar um local com um mínimo de estrutura turística. Além disso, muitos dos lugares mais interessantes são Parques e outras áreas naturais onde não há outra alternativa senão acampar. Por outro lado, com menos peso você consegue rodar uma quilometragem maior por dia. É questão de adaptar seu estilo de viagem, seu ritmo de pedalar e estudar bem o roteiro para fazer sua escolha.

Em média, a bagagem completa incluindo material de camping e comida, fica em torno de 30 a 35kg, sem contar a bicicleta. Em travessias muito longas (meses), e em lugares muito frios, que exigem maior quantidade de equipamento, este peso chega a 45 kg.

Segue abaixo uma sugestão de lista completa de bagagem. Faça a sua própria lista e sempre confira item por item ao preparar as malas.

ROUPAS
-camiseta
-camiseta manga longa
-camisa-calça 
     (de brim e tactel)
-cinto
-bermuda
-short
-meia
-roupa
 íntima
-roupa de banho
-meias
-lenço
-moleton com capuz
-capa de chuva
-anoraque

Para o FRIO
-casaco
-ceroulas
-luva
-gorro
-cachecol

PROTEÇÃO CONTRA O SOL
-chapéu
-boné
-filtro solar
-protetor labial
-caladril
-creme hidratante
-óculos de sol
CALÇADOS
-tênis
-bota/palmilha
-chinelo/havaianas
-papete
HIGIENE PESSOAL
-escova de dente (duas)
-pasta de dente
-fio dental-sabonete
-shampoo
-condicionador
-pente-escova
-toalha comum
-toalha tipo packtowel
-papel higiênico
-lâmina de barbear
-modess/ ob
-cortador de unha
CARTEIRA
-documentos (passaporte)
-xérox de vacina
-cheques-cartão de banco
-dinheiro
-cartão telefônico
-agenda de telefones
-passagem
-nota fiscal da bicicleta
EQUIPAMENTOS
-máquina fotográfica
       (filme e pilha)
-gravador (fita e pilha)
-lanterna (pilha)
-relógio
-agenda eletrônica
-binóculo
-bússola
-GPS
-canivete
-apito
-travesseiro inflável
-capa de mochila
-fitas e peças de reposição
 para mochila
OUTROS
-isqueiro
-fósforos
-cantil/garrafa
-cloro
-sacos plásticos
-livro
-mapas
-guia rodoviário
-caderneta e caneta
-selo e envelope
-vitamina C
-chiclete
-repelente
-baralho
-sabão e escova
KIT "MC GIVER"
-fita adesiva
-silver tape
-elásticos
-tiras de câmara
-pincel atômico
-alfinetes de segurança
 (alfinete de fralda de nenê)
-araminhos (de pão)
-barbante
-agulha e linha
-cordinhas
 

(OBS. Veja como distribuir toda a bagagem na bicicleta nos itens: BICICLETA/Alforjes; e PEDALANDO/Acomodação da Bagagem na bicicleta)

Condicionamento físico

Não é necessário ser atleta para se viajar de bicicleta, basta estar mantendo um bom condicionamento físico e não ser sedentário. O importante é planejar o roteiro e a quilometragem de acordo com o seu condicionamento. E a partir da segunda semana de viagem já dá para sentir alguma melhora no rendimento. Seguindo alguns cuidados, a própria viagem, se for longa, serve como treinamento.

Para melhorar o preparo físico antes da viagem de bicicleta o bom é pedalar bastante. Mesmo na impossibilidade de rodar grandes distâncias para treinar, aproveite para utilizar a bicicleta como meio de transporte no dia a dia, se ainda não o fizer. Enfim, pedale, pedale, pedale.

Para adquirir maior capacidade aeróbica, ou seja, mais fôlego, a maneira mais eficiente é correr (é bom lembrar: sempre com tênis apropriado para esta atividade, com bastante amortecimento no solado para evitar problemas nos joelhos e coluna).

A musculação pode ser feita, também com muito cuidado para evitar lesões, mas pedalar ainda é a melhor maneira de se adquirir a musculatura específica para isso.

Caso vá utilizar bicicleta ergométrica para treinar, muita atenção: a maioria delas deixa o “ciclista” numa posição errada, com o tronco muito ereto ou não regulam o banco numa altura suficiente para pessoas mais altas (em ambos os casos quem sofre são os joelhos).

Essencial mesmo é começar a fazer alongamentos com uma boa antecedência da viagem, isto irá evitar estiramentos e outras lesões. Um bom alongamento corporal demora meses ou até mesmo anos para ser atingido, por isso não tenha pressa, faça sempre com paciência, acompanhando sua melhora mês a mês. Um bom alongamento lombar, por exemplo, permitirá ao ciclista pedalar por mais horas, sem terminar o dia com uma terrível dor nas costas. Muitos ciclistas profissionais têm procurado aulas de ioga para melhorar a postura, aprender a controlar a respiração e fazer relaxamento. (veja o item PEDALANDO/Alongamento).

Também é recomendável fazer exercícios com partes do corpo que a bicicleta não trabalha mas exige muito, como o abdomen e as costas. A prática de Ioga e Pilates podem ser ótimas neste caso.

Muitas vezes, o preparo psicológico é mais determinante numa viagem de bicicleta do que o preparo físico. Há vários casos de atletas que não se saem tão bem em cicloturismo por esperarem a mesma performance de quando estão treinando e voltando para casa, com alimentação equilibrada e uma renovadora noite de sono. Claro que não é o que acontece numa viagem, ainda mais se a opção for acampar e cozinhar a própria comida. Por isso, é mais fácil um campista se tornar um cicloturista do que um ciclista fazer isso.

 

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